30/08/2015

ARTIGO

(Des) confiança nas instituições

Por Homero de Oliveira Costasociólogo e prof. da UFRN

Uma pesquisa do Ibope divulgada em julho deste ano, feita em 142 municípios de todas as regiões do país, ouvidas 2.002 pessoas com 16 anos ou mais, constatou uma queda nos índices de confiança nas instituições políticas, comparada a pesquisa semelhante realizada em 2014. Esse índice é medido desde 2009, sempre no mês de julho, auferindo a confiança da população em 18 instituições. Entre 2009 e 2012, não houve variações significativas. Em julho de 2013, após as manifestações de protesto pelo país, houve uma queda de confiança em todas as instituições.

Em 2015, porém, a queda do chamado Índice de Confiança Social foi muito expressiva, especialmente em relação ao governo, partidos e parlamentares (Congresso Nacional). Outras instituições, não ligadas ao mundo político, mantiveram seus índices (Igreja, Forças Armadas e o Judiciário, por exemplo), algumas diminuíram - como o Sistema Único de Saúde (de 43% para 34%) - e/ou ampliaram, caso do Corpo de Bombeiros (de 73% para 81%). A queda mais acentuada foi em relação à presidência da República. Em 2014 era 44% e, este ano, caiu para 22%. A segunda maior queda foi dos partidos políticos. O índice de confiança. que já era baixo, 30% – um dos menores índices comparando com pesquisas realizadas na América Latina - caiu para 17%. A terceira maior queda foi a do Congresso Nacional, que era pouco acima dos partidos, 35% no ano passado, e caiu para 22%, índice igual a da presidente da República.

Enfim, houve uma queda geral dos índices de confiança nas instituições políticas. O que isso significa? Essas pesquisas e seus resultados precisam ser interpretados dentro da conjuntura política e econômica do momento em que a pesquisa foi realizada. Num cenário de desgaste do governo, que é obrigado a implementar medidas antipopulares, fragilizado no Congresso Nacional, refém de uma base parlamentar conservadora e uma mídia majoritariamente hostil (especialmente a chamada Grande Mídia) creio ser perfeitamente compreensível. O problema é a manutenção ou ampliação desses índices de rejeição ao governo e suas conseqüências. É possível que uma melhora na economia do país, com as medidas anunciadas e postas em prática, possa reverter esse caso. Mas, no momento, é apenas uma expectativa.

Em relação aos partidos, há um inegável distanciamento com a sociedade, e a frustração reflete no desencanto com a política. “Como afirma Helcimara Telles no artigo “Corrupção, legitimidade democrática e protesto: o boom da direita na política nacional” (Interesse Nacional, ano 8, n.30)” Em um contexto de crise de representatividade e de piora dos indicadores econômicos, podem emergir lideranças outsiders, com discursos mais radicalizados à direita, prometendo mais “eficácia e ética” na gestão política e organizando a opinião pública por fora das instituições partidárias. Embora afirmem aceitar os procedimentos democráticos, devido a ambigüidade destes manifestantes em acolher a democracia, um político com características desta envergadura pode encontrar apoio neste grupo, que possui pouco engajamento cívico e frágeis vínculos partidários”.

As recentes manifestações contra o governo, majoritariamente da classe média - com seus ódios e intolerâncias – mostram que, pelo menos, não há lideranças com legitimidade e capacidade que possa ser alternativa e representar a parcela eleitoral majoritária da sociedade que elegeu uma presidente, a qual em que pese os erros coemtidos e os problemas que o governo vem enfrentando, não pode sucumbir a alguns saudosos da ditadura e golpistas, que teimam (ainda) em não reconhecer a legitimidade dos resultados das eleições, que foram livres e transparentes.

- Artigo publicado no jornal Tribuna do Norte, em 22/08/2015. Disponível em http://tribunadonorte.com.br/noticia/des-confiana-a-nas-instituia-a-es/322411


Postado em 30/08/2015 às 21:00

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