19/01/2014

ARTIGO

A plateia aplaude, pede bis e quer ser feliz

Por Sávio Hackradt - chefe do Gabinete Civil de Natal

A montagem da peça política este ano no Rio Grande do Norte é trabalho para artesão meticuloso – paciente, competente, rápido de raciocínio e bom de planejamento e composição. Para resumir em uma expressão: bom de jogo. Toda a peça a ser montada é para uma única cena: a escolha dos próximos governador, senador e deputados federais e estaduais. Há muitos atores e poucos papeis de protagonistas a serem preenchidos, em especial nas disputas pelos cargos majoritários – governador e senador, obviamente os mais cobiçados pelos que querem ocupar papel de destaque na política do estado.

Inegavelmente, o papel de maestro, de diretor da peça, está hoje nas mãos do PMDB, o partido de maior expressividade eleitoral e política no estado. E, no partido, o nome para conduzir a cena é o do deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara dos Deputados e presidente do PMDB no estado. Sua representatividade no mundo político nacional – e local, claro – lhe credencia para tanto. Só que ele não pode esquecer: o seu trabalho na construção da peça terá que ser o de um artesão auxiliado por outros artesãos, de um maestro que conta com auxiliares à sua altura. Sozinho, ele terá grandes dificuldades de escrever uma peça política capaz de, em apenas uma cena, ser aplaudida de pé, com pedido de bis, por uma plateia que só deseja ser feliz.

Mais: uma peça não se faz só com diretor – são necessários roteirista, produtor, cenógrafo, iluminador, contrarregra e, em especial, ótimos atores. Aliás, há escassez de bons atores para a cena política/eleitoral este ano no Rio Grande do Norte. Pelo menos é o que dizem as pesquisas. A plateia aguarda e quer assistir uma peça capaz de indicar qual o destino que se reserva para o Rio Grande do Norte nas próximas décadas e ainda não manifestou grande confiança nos atores da política potiguar.

São muitos atores querendo participar da peça, em especial, da cena eleitoral de outubro, obtendo sucesso nas urnas com o apoio da plateia. Mas há um evidente desgaste com a repetição dos mesmos nomes na cena eleitoral do estado. É incrível como em pleno ano da eleição ainda não se tem rumo nem para um lado (governo) nem para o outro (oposição).

Enquanto a peça não é montada pelos profissionais do teatro político, o espectador vai tocando sua vida sem muito se importar como o que é escrito nos bastidores. Aqui e acolá, o cidadão manda recados para a elite política. Como quem diz: olha, tomem cuidado com o que escrevem e vão apresentar, porque, se não for muito bom, vamos rejeitar a cena eleitoral de outubro.

A sociedade vem se manifestando há tempos das mais variadas formas. Nas ruas, mostrou em meados de 2013 que pode se mobilizar ordeiramente e com violência também. As manifestações violentas perderam o apoio que seus idealizadores imaginaram um dia ter da maioria da população. Os manifestantes ordeiros saíram das ruas e deixaram os violentos sozinhos. Aos poucos os violentos foram perdendo apoio. A cidadania repudiou a violência. No entanto, o sentimento de mudança não saiu da cabeça do cidadão e da cidadã. Em silêncio, a sociedade aguarda o que lhes será apresentado pelos partidos políticos. Nas redes sociais, diariamente, as pessoas manifestam o desejo de mudar a política velha e arcaica do século passado. No Twitter e no Facebook é fácil identificar grupos ou indivíduos pregando a mudança. E é rápido o processo de disseminação de manifestações condenando a nossa elite política.

Não adianta querer se enganar, tentar tapar o sol com a peneira. Partido e candidato que não estiverem sintonizados com o sentimento das ruas vão ter que se agarrar nos grotões da política para sobreviver. E olhe lá, que, mesmo nos grotões, já há manifestações de descontentamento com a elite política do Rio Grande do Norte, o que pode surpreender negativamente aqueles que teimam em permanecer no passado.

Postado em 19/01/2014 às 23:00 - Artigo publicado originalmente na Tribuna do Norte

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