14/04/2013

ARTIGO

A Petrobras em uns poucos atos e fatos

Por Tomislav R. Femenick - Mestre em economia, auditor e consultor


Minha primeira participação em atos públicos deu-se em Maceió, no início dos anos cinquenta do século passado. Nós, os estudantes do Colégio Guido de Fontgalan, nos juntamos aos operários, intelectuais e aos militantes de esquerda e saímos pelas ruas do centro da cidade gritando em defesa da nacionalização do petróleo. Na época eu não via a jabuticaba que isso ia dá: o Brasil foi o único país do mundo a nacionalizar o que não existia, pois nós não tínhamos petróleo nenhum. Nos países árabes, no México e na Venezuela o custo de descobrir o ouro negro foi bancado pelas multinacionais; depois foi nacionalizado.

Na década seguinte, assisti e divulguei na imprensa nacional o surgimento do óleo mossoroense em perfurações de poços de água na Praça Padre Mota, na localidade Saco, na Salina Guanabara, na Gangorra e outro mais. Os poços foram vedados e ficaram inativos.

Já no inicio deste século, minha sobrinha Renata, que mora no Texas, foi indicada por uma empresa de colocação de executivos para trabalhar em uma empresa em Passadena; a tal refinaria da Petrobras. A politicalha, as panelinhas, o favoritismo aos ligados a determinadas correntes de esquerda era de tal magnitude que minha sobrinha pediu demissão. Nos últimos meses despontou na imprensa o escândalo: a Passadena Refining System foi comprada por um grupo belga por US$ 45 milhões e poucos anos depois foi vendida à Petrobras por mais de US$ 1,200 bilhão. Nada mau, um lucro de cerca de US$ 1,150 bilhão; bom para os belgas, péssimo para nós.

O fato é que o uso político da Petrobras e as nomeações de apadrinhados políticos tecnicamente despreparados se refletiram no desempenho da empresa. O lucro líquido da empresa desabou no ano passado, chegando a ser menor do que em 2004, o que provocou a desvalorização de suas ações na BM&FBovespa e nas bolsas estrangeiras onde são negociadas. Em janeiro passado, a empresa já tinha perdido 40% do seu valor de mercado, em apenas três anos; valia US$ 199,3 bilhões no dia 1º de janeiro de 2010, e despencou para US$ 119,9 bilhões, uma diferença de quase US$ 80 bilhões. Em fevereiro, a Petrobras valia menos que a colombiana Ecopetrol. Tudo isso atingiu quem aplicou o FGTS em ações da estatal, pois nos últimos meses perdeu quase 20% do valor da aplicação.

No Rio Grande do Norte o mundo petrolífero também está desabando. A produção anual de óleo caiu de 31,7 milhões de barris em 2000, para 21,7 milhões em 2012; a de gás foi reduzida de 1,26 milhões de m3 para 563 mil. Na região de Mossoró, a Petrobras, as empresas que lhe prestam serviços e outras ligadas à indústria petroleira já demitiram quase dois mil empregados. A retração dos investimentos, dos negócios e do número de empregos está se refletindo diretamente nas outras atividades: retração nas vendas do comércio, na construção civil (1.500 demissões), na ocupação dos hotéis (55% a menos) e nas vendas dos restaurantes, no setor de transporte (258 demissões), nas receitas do Estado e dos Municípios da região.

Isso quer dizer que a Petrobras abandonou ou vai sair do Rio Grande do Norte? Não, nada é nada disso. A nova presidente da empresa, a engenheira Graça Foster, está tentando arrumar a casa. A bacia Potiguar tem 7.913,99km2 de área ofertada à exploração, grande de mais para ser desprezada, até porque no horizonte desponta o quase ocaso do pré-sal, cantado em prosa e verso, mas que para acontecer precisa de muito investimento, muita tecnologia e muito tempo.

Tecnologia a Petrobras tem ou seus técnicos são capacitados a desenvolvê-la. O problema é o tempo e o dinheiro. O tempo é apertado, pois a nossa tão propalada autossuficiência do petróleo foi balela e propaganda eleitoral. Quando mais o tempo passa, mais gastamos com a importação de petróleo, o que afeta a balança de pagamento. O caso dos recursos para investimento poderia ser resolvido com lançamento de ações primárias em bolsas de valores, mas a desvalorização dos títulos da empresa não recomenda isso agora.

Dona Graça há de dar o ar de sua graça resolvendo essas questões. Pode fazer de tudo, menos privatizar a Petrobras, um patrimônio do povo brasileiro, construído inclusive com os meus tênues e ingênuos gritos juvenis.

*Publicado originalmente na Tribuna do Norte

Postado em 14/04/2013 às 12:00

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